sábado, 6 de outubro de 2012

Quando é morto em dia de sol, diz-se que o céu está em festa para recebê-lo.
Quando o tempo é nublado ou chuvoso, diz-se que o céu toma parte na tristeza de quem fica.


Quando deixaremos de nos ver naquilo que nada tem com os sentimentos térreos dos que têm consciência da consciência?

Quando deixaremos de humanizar o que nos é diferente?

As plantas não choram.
Deus não castiga.
Cachorros não compartilham de nosso senso de humor.

Que nós passemos a aceitar as coisas como elas são.

Plantas não têm sistema nervoso central.
Se Deus existe, Ele não é um de nós.
Animais não entendem de coleiras ou laços de tecido.
Nascem livres e de nós permaneceriam livres, com seu instinto animal, vivendo e morrendo à seleção natural.

Aquele homem enrolado em papeis de jornal, sujo de seus próprios excrementos, ou ainda de outrem;
Aquele que quando no nosso caminho, em frações de segundo que sequer alcançam a consciência,
nos faz desviar o olhar e o caminho.
Aquele que fingimos não perceber
E lavamos nossas mãos, já ditas limpas por bondade e compaixão.

Aquele, que negamos a mão, o pão e o vício
Aquele é o bicho humano:

Não necessita topes ou laços que diferenciem seu sexo,
Não necessita interpretações profundas que identifiquem sua tristeza ou o riso,
Não precisa de adestramento para que ande em duas patas, sente-se, finja-se de morto ou que fale.
Nem da nossa vigilância afoita - com câmeras fotográficas à mão, que registrem qualquer atitude sua que se assemelhe a uma atitude humana.   

Ele é bicho e é humano.

Compartilha 99,9% de nossa estrutura
A estrutura que dizemos perfeita, criada por Deus à Sua semelhança, que é capaz de todo o humanismo que prazerosamente outorgamos a todas as outras coisas, que não a ele:


O bicho que é homem.

Ele, que é capaz de ver a alegria e a dor humana no céu, em Deus e nos animais. Como nós.
E que cuidados ele tem? Quem são seus donos? Cadê seu pote de alimento?

Os papeis estão invertidos.

Ou indigna-te ao ver o homem que está só e sem amparo assim como te indigna à visão de um animal abandonado
         Ou aceita que tua compaixão é limitada,
         Que tua bondade escolhe a quem, e que, logo, bondade plena não é.


Ou desvia teu olhar da rua ao homem, assim como fazes com o bicho
Aceitando que homem é homem e bicho é bicho
E ajuda ambos os que a dor, sim, compartilham
          Ou assume-te insensível
           tão insensível quanto aquele que tu julgas por não erguer um braço em prol do gatos, canários ou
           baleias que sofrem


Pois tu também não sentes pelo bicho
Teu bicho-irmão:
O Homem Humano.